terça-feira, novembro 27, 2012

O PONTO DE MUTAÇÂO




O filme O ponto de mutação foi inspirado no livro do físico Fritjof Capra (1982), foi dirigido pelo irmão do autor, Bernt Capra, na década de 90. Tanto no livro como no filme é evidenciada a comparação cientifica do pensamento cartesiano ao paradigma holístico, sistêmico, emergente no século XX. A escolha do local que foi gravado o filme, os excelentes atores e o assunto denso que nos capta do inicio ao fim faz com que o tempo “voe” e mostre sua relatividade na prática!
A partir do reencontro de dois amigos, Jack, político democrata conservador dos EUA, e Thomas, poeta que foi viver na França, que, durante a visita a um castelo medieval encontram Sonia, uma cientista em recesso, surge uma conversa espontânea que envolve a todos de uma maneira profunda e reveladora, causando transformações diversas no âmbito existencial.
A conversa entre os três se inicia numa sala que abrigava um enorme maquinário de relógio em funcionamento, quando Thomas comenta com o amigo que acreditava ser aquela máquina, o relógio, a primeira causa da ruptura do homem com a natureza, e, em seguida pergunta a Sonia se ela concordava. A cientista não só concordou como afirmou ser o relógio instrumento entendido pelos homens como o modelo do cosmos, confundindo a natureza com um grande relógio.
O começo da reflexão acerca do conceito de tempo, da mudança do ritmo da vida e sua relação com a morte, assim como a dos valores individuais contemporâneos, desencadeou uma série de outros assuntos que se concentraram na explanação de Sonia, relacionando-os sempre a física quântica.
A crítica à visão mecanicista dos políticos foi comparada com o método cientifico desenvolvido no século XVII, a partir de Descartes. As questões éticas e morais da vida, o papel social alienante e imoral provocado pelas grandes corporações, o processo histórico exploratório que desde as colonizações geram dividas que até hoje são pagas com mortes de inocentes e devastação ambiental, o efeito estufa, o gado provocando desmatamento, os diversos problemas decorrentes de uma forma de vida que nos adoece...
Na visão de Sonia estamos vivendo uma “crise da percepção” e “precisamos de tempo para entender o mundo”, estabelecer conexões, como as realizada pela natureza, no desenvolvimento de um “pensamento ecológico” contrário ao cartesiano, onde a personagem demonstra que estamos todos interligados numa troca energética constante.
O diálogo fílmico é desenvolvido em consonância com o espaço ocupado pelos personagens, além do espaço do maquinário do relógio, mencionado anteriormente, podemos destacar o da sala de tortura, onde é discutida sua atualidade e a dominação do homem sobre tudo, inclusive sobre as mulheres e a “mãe natureza”. Nesse momento Sonia cita como referência um dos fundadores da ciência moderna, Francis Bacon, que contribuiu para a condenação das mulheres consideradas “bruxas” por usarem a medicina popular ou simplesmente por serem estranhas. Durante a conversa são destacados além de Bacon outros referenciais filosóficos, científicos e artísticos como Confúcio, Descartes, Newton, Turner, Neruda...
A questão da ética e da moral cientifica é posta em cheque em vários momentos do filme. Por exemplo, Sonia ao desenvolver o laser com uma intenção para contribuição na medicina e depois descobre que sua descoberta estava servindo a produção de células cancerígenas; a criação da bomba atômica, provocando uma noção de que o mundo é descartável e pode acabar num simples gesto ao apertar um botão.
Tendo em mente que “a criatividade é um elemento básico da evolução”, fica-nos manifesta a responsabilidade que devemos ter com as pesquisas desenvolvidas, pois como foi salientado “Quando algo acontece no campo cientifico espalha-se para todos os lados”, como uma espécie de “interdependência” demonstrada na “teoria dos sistemas vivos”. As diferentes formas de visão sobre uma árvore no filme nos ratificam em como existem maneiras de ler o mundo, e uma não descarta a outra, são opções que devemos fazer ao analisar uma coisa, uma situação, ou, academicamente, o próprio objeto de pesquisa.
A trilogia entre as visões da ciência, da política e da poesia nos levam a crer finalmente que a arte é a que traz maior sentido da grandeza do universo imensurável e misterioso pois o homem ainda está muito longe de ter uma explicação da existência.
A declamação da poesia de Pablo Neruda veio ao final nos conscientizar através dos elementos naturais tudo isto.

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