terça-feira, outubro 22, 2013

"Quem dirá a última palavra? O homem! A terra é sua porque ele é a terra, seu fogo, sua água, seu ar, sua matéria mineral e vegetal, seu espírito que é cósmico, que é imperecível, que é o espírito de todos os planetas, que se transforma através dele,através de infindáveis sinais e símbolos, através de infindáveis manifestações. Esperem, seus merdas telegráficos cósmocócicos, seus demônios que do alto aguardam que o encanamento seja consertado, esperem, sujos conquistadores brancos que emporcalham a terra com seus cascos fendidos, seus instrumentos, suas armas, seus germes de doenças, esperem, todos vocês que estão sentados no conforto e contando suas moedas, pois ainda não chegou o fim. O último homem dirá sua última palavra antes que tudo se acabe. Até a última molécula sensível é preciso que seja feita justiça - e será feita! Ninguém vai escapar impune, muito menos os merdas cosmocócicos da América do Norte." Henry Miller "Trópico de capricórnio"

terça-feira, novembro 27, 2012

O PONTO DE MUTAÇÂO




O filme O ponto de mutação foi inspirado no livro do físico Fritjof Capra (1982), foi dirigido pelo irmão do autor, Bernt Capra, na década de 90. Tanto no livro como no filme é evidenciada a comparação cientifica do pensamento cartesiano ao paradigma holístico, sistêmico, emergente no século XX. A escolha do local que foi gravado o filme, os excelentes atores e o assunto denso que nos capta do inicio ao fim faz com que o tempo “voe” e mostre sua relatividade na prática!
A partir do reencontro de dois amigos, Jack, político democrata conservador dos EUA, e Thomas, poeta que foi viver na França, que, durante a visita a um castelo medieval encontram Sonia, uma cientista em recesso, surge uma conversa espontânea que envolve a todos de uma maneira profunda e reveladora, causando transformações diversas no âmbito existencial.
A conversa entre os três se inicia numa sala que abrigava um enorme maquinário de relógio em funcionamento, quando Thomas comenta com o amigo que acreditava ser aquela máquina, o relógio, a primeira causa da ruptura do homem com a natureza, e, em seguida pergunta a Sonia se ela concordava. A cientista não só concordou como afirmou ser o relógio instrumento entendido pelos homens como o modelo do cosmos, confundindo a natureza com um grande relógio.
O começo da reflexão acerca do conceito de tempo, da mudança do ritmo da vida e sua relação com a morte, assim como a dos valores individuais contemporâneos, desencadeou uma série de outros assuntos que se concentraram na explanação de Sonia, relacionando-os sempre a física quântica.
A crítica à visão mecanicista dos políticos foi comparada com o método cientifico desenvolvido no século XVII, a partir de Descartes. As questões éticas e morais da vida, o papel social alienante e imoral provocado pelas grandes corporações, o processo histórico exploratório que desde as colonizações geram dividas que até hoje são pagas com mortes de inocentes e devastação ambiental, o efeito estufa, o gado provocando desmatamento, os diversos problemas decorrentes de uma forma de vida que nos adoece...
Na visão de Sonia estamos vivendo uma “crise da percepção” e “precisamos de tempo para entender o mundo”, estabelecer conexões, como as realizada pela natureza, no desenvolvimento de um “pensamento ecológico” contrário ao cartesiano, onde a personagem demonstra que estamos todos interligados numa troca energética constante.
O diálogo fílmico é desenvolvido em consonância com o espaço ocupado pelos personagens, além do espaço do maquinário do relógio, mencionado anteriormente, podemos destacar o da sala de tortura, onde é discutida sua atualidade e a dominação do homem sobre tudo, inclusive sobre as mulheres e a “mãe natureza”. Nesse momento Sonia cita como referência um dos fundadores da ciência moderna, Francis Bacon, que contribuiu para a condenação das mulheres consideradas “bruxas” por usarem a medicina popular ou simplesmente por serem estranhas. Durante a conversa são destacados além de Bacon outros referenciais filosóficos, científicos e artísticos como Confúcio, Descartes, Newton, Turner, Neruda...
A questão da ética e da moral cientifica é posta em cheque em vários momentos do filme. Por exemplo, Sonia ao desenvolver o laser com uma intenção para contribuição na medicina e depois descobre que sua descoberta estava servindo a produção de células cancerígenas; a criação da bomba atômica, provocando uma noção de que o mundo é descartável e pode acabar num simples gesto ao apertar um botão.
Tendo em mente que “a criatividade é um elemento básico da evolução”, fica-nos manifesta a responsabilidade que devemos ter com as pesquisas desenvolvidas, pois como foi salientado “Quando algo acontece no campo cientifico espalha-se para todos os lados”, como uma espécie de “interdependência” demonstrada na “teoria dos sistemas vivos”. As diferentes formas de visão sobre uma árvore no filme nos ratificam em como existem maneiras de ler o mundo, e uma não descarta a outra, são opções que devemos fazer ao analisar uma coisa, uma situação, ou, academicamente, o próprio objeto de pesquisa.
A trilogia entre as visões da ciência, da política e da poesia nos levam a crer finalmente que a arte é a que traz maior sentido da grandeza do universo imensurável e misterioso pois o homem ainda está muito longe de ter uma explicação da existência.
A declamação da poesia de Pablo Neruda veio ao final nos conscientizar através dos elementos naturais tudo isto.

sábado, agosto 18, 2012

SSSSSSSSSSSOLSSSSSSSSSSSS

SENTADO
ACABADO O SENTIDO
ONDULANTE
CURVAS NO CURVO INFINITO
DE NOSSOS OLHOS SE ENCONTRANDO
NO RESPALDO DA PALAVRA
TENTO TRADUZIR MEUS SENTIMENTOS
EM VÃO
OBSERVA
O CORPO
CURVO

terça-feira, junho 05, 2012

The child who was shot dead by soldiers at Nyanga





The child is not dead
The child lifts his fists against his mother
Who shouts Afrika ! shouts the breath
Of freedom and the veld
In the locations of the cordoned heart
The child lifts his fists against his father
in the march of the generations
who shouts Afrika ! shout the breath
of righteousness and blood
in the streets of his embattled pride
The child is not dead
not at Langa nor at Nyanga
not at Orlando nor at Sharpeville
nor at the police station at Philippi
where he lies with a bullet through his brain
The child is the dark shadow of the soldiers
on guard with rifles Saracens and batons
the child is present at all assemblies and law-givings
the child peers through the windows of houses and into the hearts of mothers
this child who just wanted to play in the sun at Nyanga is everywhere
the child grown to a man treks through all Africa
the child grown into a giant journeys through the whole world
Without a pass

Ingrid Jonker

domingo, maio 27, 2012

INTUITIVO

As madrugadas acendem meus pensamentos...
Pessoas se alterando no bar da esquina,
falatório em círculos sem fim!

Acordar para mais um dia
que engole os minutos como um leão veloz,
sem medo,
instintivo,
intuitivo.

Desejos submetidos ao tempo,
a espera de menos um dia.

A razão insipiente,
desdentada com a miséria do mundo.
Acorrentada pela falta de comunicação,
de afeto,
de sorrisos que se vão e não retornam.

"Eu fico preso a sua senha... sou enganado...
eu já não sei de quase nada...eu só sei de mim...
só sei de mim...dia após dia... o pátria nossa de cada dia..."

segunda-feira, maio 14, 2012

domingo, abril 15, 2012

REMORSO POR QUALQUER MORTE

"Livre da memória e da esperança,

ilimitado, abstrato, quase futuro,

o morto não é um morto: é a morte.

Como o Deus dos místicos,

de Quem deve negar-se todos os predicados,

o morto ubiquamente alheio

não é senão a perdição e a ausência do mundo.

Tudo dele roubamos,

não lhe deixamos nem uma cor nem uma sílaba:

aqui está o pátio que já não compartilham seus olhos,

ali a calçada onde sua esperança espreitava.

Até o que pensamos poderia esta pensando ele também;

repartimos como ladrões

o caudal das noites e dos dias."

Jorge Luis Borges