terça-feira, novembro 06, 2007

Navegante

Navego em mares desconhecidos,
Provoco maremotos, giro com o redemoinho...
Para mim o limite é algo a ser inventado a cada dia,
a cada olhar, a cada toque.
Perfuro olhares desconcertantes, descubro o outro dentro de mim.
Levanto e me deparo com mais um dia chuvoso,
com a calmaria do sonho que não tive.
A poesia que não escrevo,
engasgada,
cuspida pelo asfalto dos dias frios,
no menino sem cobertor,
pensamento atormentado pelo que não é feito todos os dias,
por todas as pessoas desabrigadas de si mesmas...

sexta-feira, novembro 02, 2007

Apropriação: Poesia Manoel de Barros

O Apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto de palavras
Fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

(MANOEL DE BARROS, EM "Memórias Inventadas - A infância")